Treino de Flexibilidade: ativo, passivo e balístico – o que é melhor?

Publicado por Prof. Dr. Charles Lopes em

Comparação de diferentes métodos de alongamento Ativo Estático, Passivo Estático e Ativo Dinâmico na flexibilidade do quadril.

 

 

A flexibilidade é uma capacidade física fundamental em diversas atividades atléticas.

Baixa flexibilidade tem sido relacionada à predisposição de lesões musculoesqueléticas e significantemente afeta a função neuromuscular.

O grupo dos isquiotibiais é frequentemente acometido de estiramentos devido a sua anatomia biarticular e uma associação de uma baixa força excêntrica e hipoflexibilidade em movimentos como chutes, sprints e mudanças de direção.

Desta forma, um dos componentes da prevenção das lesões por estiramento é a incorporação de rotinas de alongamento no programa de treinamento de flexibilidade.

Tipicamente, o aumento da flexibilidade é realizado a partir de métodos específicos de alongamento. Tais métodos são classificados de acordo com a existência de movimento (estático e dinâmico) e da força responsável pelo alongamento (ativo e passivo).

 

hernia de disco e pilates

No alongamento ativo estático, o grupo muscular é alongado através da ativação isométrica do grupo muscular oposto.

No alongamento passivo estático, o grupo muscular é alongado isometricamente por uma força externa (equipamento ou auxiliar).

No alongamento ativo dinâmico, também conhecido como balístico, o grupo muscular é alongado dinamicamente pelos músculos opostos ao alongamento.

Por fim, no alongamento passivo dinâmico, o grupo muscular é alongado dinamicamente por uma força externa.

 

treinamento de flexibilidade

Cada um dos métodos causam alterações neurofisiológicas e mecânicas na unidade músculo tendínea que agudamente aumentam da amplitude de movimento em volta de uma articulação.

Estudos prévios buscaram determinar os parâmetros mais apropriados para a prescrição dos métodos de flexibilidade.

 

Aguilar et al., observaram maior magnitude de aumento da flexão do quadril após um método de alongamento ativo dinâmico quando comparado ao passivo estático.

 

Por outro lado, Perrier et al., observaram similaridades entre os alongamentos ativo dinâmico e passivo estático.

 

Estudos demonstram que métodos acima de 90 segundos de duração e intensidade acima de 50% da percepção subjetiva de desconforto (PSD) no alongamento é necessário para aumentar agudamente a flexibilidade.

 

Baseado nas evidências prévias, a hipótese principal é que os métodos passivo estático e ativo dinâmico irão aumentar a amplitude de movimento no teste de sentar e alcançar na mesma magnitude; entretanto, não é esperado aumento da flexibilidade após o protocolo ativo estático.

 

Métodos e Amostra

A amostra no presente estudo foi composta por:

  • 13 homens (idade: 26 ± 4,5 anos; estatura: 176 ± 5,4 cm; massa corporal total: 82 ± 7,5 kg).
  • 6 mulheres (idade: 23 ± 2,5 anos; estatura: 163 ± 4,3 cm; massa corporal total:55,2 ± 9,1 kg).

Os critérios de inclusão da amostra foram:

  • (i) homens saudáveis
  • (ii) ter entre 18 e 35 anos,
  • (iii) praticante de treinamento de força ininterrupto por no mínimo 1 ano, e frequência semanal maior que 3x semana e
  • (iv) sem qualquer acometimento osteomioarticular nos membros inferiores e ou tronco (lesão ou cirurgia prévia).

 

A amostra experiente em treinamento de força foi escolhida por possuir um elevado nível de força nos membros inferiores necessário para execução dos métodos de alongamento, principalmente o ativo estático e o ativo dinâmico.

A metodologia proposta foi formulada respeitando as resoluções 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (protocolo n° 65/2015).

 

Desenho Experimental

Os sujeitos foram orientados a abster-se de quaisquer exercícios físicos extenuantes para os membros inferiores nas 72 horas prévias às quatro visitas realizadas ao laboratório.

Na primeira visita, foram obtidos os dados pessoais (nome, idade, estatura, massa corporal total e tempo de experiência com treinamento de força).

A familiarização foi orientada por um dos pesquisadores e consistiu em realizar do teste de sentar e alcançar (3 tentativas espaçadas de 10 segundos) e cada um dos métodos de alongamentos testados espaçados por 5 minutos.

Os três métodos de alongamento investigados foram explicados aos sujeitos; entretanto, somente três séries de cada um deles foram realizados. Caso em algum momento a técnica do teste ou do método de alongamento fosse considerada insatisfatória, uma nova rodada de familiarização seria realizada.

 

As três visitas seguintes foram aleatorizadas entre os sujeitos e serviram para avaliar o desempenho de flexibilidade antes e imediatamente após os métodos de alongamento ativo estático (AE), passivo estático (PE) e ativo dinâmico (AD).

Todos os métodos foram realizados utilizando seis séries de 45 segundos com 45 segundos de intervalo entre séries (totalizando 270 segundos em alongamento).

A intensidade do alongamento foi controlada através da percepção subjetiva de desconforto (PSD) do sujeito. Esta escala varia entre 0 a 100% [zero sem desconforto e 100% o máximo desconforto imaginável durante o alongamento] [4-7].

 

Os métodos de alongamento foram realizados com os sujeitos em decúbito dorsal.

Na condição de alongamento ativo estático (AE), o sujeito foi orientado a isometricamente sustentar a flexão do quadril alongando os isquiotibiais entre 70 e 90% da PSD.

Na condição de alongamento passivo estático (PE), o sujeito foi alongado por um dos pesquisadores que manteve a intensidade do alongamento entre 70 e 90% da PSD do sujeito.

Na condição de alongamento ativo dinâmico (AD) o sujeito realizou o movimento de flexão e extensão do quadril em uma cadência de um segundo por fase (ascendente e descendente).

 

O sujeito teve um auxílio de um metrônomo a 60bpm. Nesta condição os sujeitos foram orientados a realizar o movimento de forma que durante a transição da flexão para a extensão do quadril a intensidade do alongamento atingisse entre 70 e 90% da PSD.

Previamente e logo após cada condição a amplitude de movimento (ADM) da cadeia posterior foi testada por meio do teste de sentar e alcançar.

Sentados com os joelhos estendidos, os sujeitos posicionaram as mãos unidas no equipamento e lentamente deslizaram a fim de alcançar a maior (ADM) possível. Foram realizadas três tentativas espaçadas de 10 segundos em cada teste. O maior valor de cada teste foi utilizado para análise.

 

Análise Estatística

A normalidade e a homogêniedade das variâncias foram confirmadas com os testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. Uma ANOVA (3×2) de medidas repetidas com os fatores condição (AE, PE e AD) e momento de avaliação (Pré- e Pós-alongamento) comparou o desempenho no teste de sentar e alcançar.

Quando necessário um post hoc de Bonferroni (com correção) foi utilizado.

O cálculo do tamanho do feito (d) foi realizado através da formula de Cohen e os resultados seguiram os seguintes critérios: <0,2 efeito trivial; 0,2-0,4 pequeno efeito; 0,40-0,8 efeito moderado; e >0,8 grande efeito.

Uma significância (α) de 5% foi utilizada para todos os testes estatísticos, através do software SPSS versão 21.0.

 

RESULTADOS

Houve um aumento na amplitude de movimento no teste de sentar e alcançar após o método de alongamento:

  • AE (P <0,001; d=0,34; [efeito pequeno]; ∆%=7,8%).
  • PE (P <0,001; d=0,55 [efeito moderado]; ∆%=18,1%).
  • AD (P <0,001; d=0,61 [efeito moderado]; ∆%=15,7%)

 

Treino de flexibilidade

Não foram verificadas diferenças entre os métodos de alongamento em nenhum momento

(P >0,05).

 

DISCUSSÃO

Todos os métodos de alongamento aumentaram o desempenho no teste de sentar e alcançar com valores similares.

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Os resultados encontrados corroboram em parte a hipótese inicial que os método passivo estático e ativo dinâmico causariam aumento da ADM no teste de sentar e alcançar.

Entretanto, não foi hipotetizado o aumento observado da ADM após o método ativo estático de alongamento.

Apesar de todos os métodos terem aumentado agudamente a flexibilidade, é possível que diferentes combinações de efeitos neuromecânicos (alterações viscoelásticas e neurofisiológicas) ou psicológicos (aumento da tolerância ao alongamento) tenham contribuído para tais resultados.

Entre os efeitos neurofisiológicos, a inibição recíproca de músculos antagônicos pode ter sido um dos mecanismos responsáveis pelo aumento da ADM nos métodos ativo estático e ativo dinâmico.

A inibição recíproca é uma estratégia neural de controle da atividade de músculos antagônicos que, através de mecanismos espinhais e supraespinhais, causam inibição do músculo antagonista ao movimento articular.

 

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No caso dos mecanismos espinhais, um ramo colateral do axônio Ia do agonista (quadríceps) excita um interneurônio inibidor do motoneurônios alfa do antagonista (isquiotibiais).

Adicionalmente, entre os fatores supraespinhais, a estimulação de quimio- e mecânoreceptores neuromusculares do grupo III e IV podem limitar o controle neural para toda a musculatura

Além disso, as vias descendentes podem causar uma inibição do reflexo miotático do músculo alongado (isquiotibiais).

Portanto, a ativação do quadríceps nos métodos de alongamento ativo (estático e dinâmico) pode ter aumentado a ADM através destes mecanismos neurais. Além destes mecanismos, uma inibição da excitabilidade dos fusos neuromusculares devido ao aumento do comprimento das fibras intrafusais associada a uma estimulação de interneurônio causam uma inibição do motoneurônio alfa da musculatura alongada.

Este mecanismo possivelmente explica o aumento da ADM após os três métodos testados no presente estudo.

Além dos efeitos neurofisiológicos, os métodos de alongamento podem ter reduzido a rigidez da unidade músculo-tendínea (UMT) dos músculos envolvidos nos métodos de alongamento.

Devido às características viscoelásticas, a unidade músculo-tendínea altera suas propriedades mecânicas dependendo do tempo, temperatura e intensidade em alongamento.

Estudos demonstram que a realização de métodos de alongamento estático com durações acima 90 segundos e acima de 50% da PSD causam alterações plásticas (permanentes) na UMT e consequente aumento da ADM em diversas articulações.

 

treinamento de flexibilidade

Desta forma, tais efeitos podem explicar o ganho de ADM no método ativo estático e passivo estático do presente estudo. Adicionalmente, o aumento da temperatura decorrente da movimentação e da perda de energia entre ciclos de alongamento reduzem a viscosidade da UMT (6) e também podem contribuir para o aumento da ADM.

Funk et al., observaram um aumento da flexão do quadril após a aplicação de compressas quentes nos isquiotibiais. Tais resultados corroboram estudos que demonstram aumento da ADM após a realização de métodos de aquecimento.

Aguilar et al., e Perrier et al., observaram aumento na ADM da flexão do quadril após a realização do alongamento passivo estático e ativo dinâmico. Adicionalmente, não foram observadas diferenças entre os métodos.

Tais resultados corroboram com os achados do presente estudo. Portanto, possivelmente o aumento da temperatura da musculatura pode ter colaborado com o aumento da ADM no método de alongamento ativo dinâmico.

 

CONCLUSÃO

Os diferentes métodos de alongamento ativo estático, passivo estático e ativo dinâmico aumentam a flexibilidade no teste de sentar e alcançar com ganhos similares.

 

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