Provas de endurance (PE), como corridas de rua, tornaram-se comuns em várias partes do mundo, e a cada dia cresce o interesse por essas práticas.
Inerente a esse crescimento, é natural que as pessoas interessadas nessa modalidade busquem aperfeiçoar o planejamento do treinamento com o propósito de melhorar o rendimento.
Apesar disso, de maneira equivocada, muitos atletas/técnicos amadores e/ou profissionais acreditam que somente a prática da corrida pode proporcionar um melhor desempenho em PE.
É indubitável que a utilização da própria corrida como meio de treinamento é apropriada para a melhora no rendimento em PE, uma vez que essa ação atende ao princípio da especificidade do treinamento desportivo. No entanto, vários fatores são determinantes para o sucesso em PE.
Os três fatores fisiológicos principais são:
- O consumo máximo de oxigênio (VO2max),
- O limiar anaeróbio (LAn) e
- A economia de movimento (EM).
Tanto o VO2max, quanto o LAn são treinados/estimulados com meios e métodos tradicionais/comuns (corridas contínuas e intervaladas) de treinamento de endurance.
Além disso, essas duas variáveis parecem ser pouco sensíveis aos efeitos de outros
meios/métodos de treinamento como, por exemplo, o treinamento de força (TF), em especial em indivíduos bem treinados.
Contudo, manipulando as variáveis agudas do TF (intensidade, volume, velocidade de execução, pausas e ações musculares), em um programa de exercícios físicos, a Economia de Movimento pode ser aperfeiçoada, mesmo em indivíduos bem treinados em endurance.
Adaptações do Treinamento de Força
O TF pode melhorar o desempenho em PE, através de adaptações neurais e musculares.
Tais adaptações podem incluir incremento na atividade das enzimas anaeróbias, aumento na produção de força, aumento no glicogênio intramuscular ou alterações nos tipos de fibras.
As adaptações neurais, podem incluir melhoria no recrutamento e sincronização de unidades motoras, aumento na velocidade de condução de potenciais de ação e melhora no ciclo alongamento-encurtamento (CAE) e razão de desenvolvimento de força (RDF).
Tais alterações poderiam contribuir para melhora no desempenho em PE.
Treinamento de Força e Economia de Movimento
Melhores resultados em Provas de Endurance estão relacionados com melhora na Economia de Movimento, e esta pode ser melhorada por meio do Treinamento de Força.
Economia de Movimento pode ser definida como a demanda energética para uma determinada carga submáxima, e é mensurada em estado estável do consumo de oxigênio e quociente respiratório, e pode ser aprimorada por meio de melhorias no CAE (capacidade de armazenar e utilizar energia elástica), e RDF (razão de desenvolvimento de força).
Atletas de endurance podem melhorar a RDF ao adicionarem Treinamento de Força em seu programa regular de treinamento.
Melhores resultados na RDF estão associados à maior ativação neural dos músculos treinados após intervenção com Treinamento de Força.
Obtendo Resultados
O Treinamento de Força melhora o desempenho em Provas de Endurance por meio da Economia de Movimento, este por sua vez, é modificado pelo CAE e RDF, sendo que a maioria dos estudos que encontraram melhores resultados utilizaram protocolos de força máxima; apenas um estudo utilizou treino isométrico e três utilizaram exercícios de pliometria.
As magnitudes de melhora no CAE e RDF podem ser maximizados com o emprego do treinamento periodizado de força, em contra partida, alguns estudos com o Treinamento de Força não periodizado observaram melhora no desempenho.
Embora os efeitos do Treinamento de Força na Economia de Movimento de atletas de endurance ainda sejam controversos, com alguns estudos indicando melhora, e outros não, pode-se considerar que o Treinamento de Força proporciona benefícios na Economia de Movimento, pois a maioria dos estudos encontrou resultados positivos.
Podemos concluir que o Treinamento de Força colabora positivamente com o desempenho de endurance, por meio da melhora na Economia de Movimento, e, portanto, deveria ser observado como importante atividade complementar aos treinamentos de endurance.
Tal constatação sugere modificações na maneira de encarar e pensar sobre o TF para atletas de endurance no momento do planejamento da temporada anual de treinamentos.
Portanto, a periodização do treinamento desses indivíduos deveria considerar melhor outros meios e métodos de treinamento, diferentes dos tradicionais que enfatizam somente os aspectos fisiológicos centrais.
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